Resposta ao Desafio:
Sempre sonhei ir a Nova Iorque. Parecia-me ser o lugar perfeito para começar a viver. Sempre me pareceu que lá tudo era possível. Mas isso não passava da minha cabeça a fantasiar. Todos os lugares do mundo têm prós e contras, qualidades e defeitos, tal como nós, seres humanos. Todos os lugares passam por várias metamorfoses ao longo dos tempos, uma vez mais, tal e qual como os humanos. E caracterizando Nova Iorque como se fosse uma pessoa caracterizava-a pela sua forte imagem, sempre actual e cosmopolita, mas também pela sua fragilidade. Fragilidade essa encontrada nos subúrbios da mesma, nos becos sem saída ao virar das grandes esquinas cheias de montras.
Enquanto percorria o corrupio das grandes Avenidas, dei por mim, inconscientemente a virar numa dessas esquinas e a entrar num beco sem luz, sem vida. Deitado no chão e enconstado a uma parede estava alguém que dependia de algo ou de alguém para viver, ou melhor, aqui tratava-se de sobreviver. Tropeçei toscamente no seu pé para tentar fazer conversa com o mesmo e imediatamente saiu-me um pedido inocente de desculpas. Olhou para mim de cima a baixo e não tugiu nem mugiu. Nada. Entrei num pranto de nervos, só um cigarro me acalmaria e me punha com um sorriso naquela altura. Saquei o maço Camel e o isqueiro do bolso do casaco, levando o negativismo todo à boca para o acender, tentando transformá-lo em algo positivo, quando uma mão vinda daquela imensa escuridão me arrancou o único prazer que poderia ter da minha boca, o partiu, deitou fora e pisou-o. Olhei em frente e lá estava ele. Lembro-me perfeitamente do que ele disse. Disse-me para não tornar um "procurar calma e diversão" num vício, pois estes apoderam-se de nós e controlam a nossa vida. Seja qual for esse vício. Sentou-se e eu sentei-me ao lado dele, naquele confortável sofá chamado chão, e começou a contar-me que se afundou num mar de vícios, levando-o depois a cometer loucuras, que sobriamente, possivelmente nunca faria, e que conseguiu afastar tudo e todos dele, menos um sítio: aquele beco. Beco esse que dizia, com a maior consciência, não ter saída possível.
E estivémos ali horas e horas à conversa. Choque, surpresa e boca aberta foram os sentimentos que me acompanharam durante aquela visita guiada ao virar da esquina. Quando me estava a vir embora, passei por um caixote de lixo. E o que é que isso tem? Nada. Eu é que tinha que tomar a decisão, o caixote era apenas um adereço. Lá pus a mão dentro do bolso, tirei o maço e o isqueiro, e deitei-os sem hesitação no Lixo. Porque é lá que eles devem estar. Enterrei tudo o que me tinha levado a procurar aqueles momentos, que lentamente me destruíam, e destruí-os Eu a eles.
Imagem em: joaoleitao.com
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